A HISTÓRIA DO SABRE D4, POR MASSIMO PEDRAZZI

A minha primeira licença de corrida, emitida pelo AutomovelClube Paulista, foi em 1962 e a estréia, foi em Interlagos com um Gordini (preparadíssimo +/- 40 hp) eu tinha 18 anos.Na mesma prova estreou também o Wilson Fittipaldi com DKW. Na época Interlagos era definido pelo pai do Wilsinho (Barão) "um caminho no meio do mato". Mas esta é outra história e teríamos que voltar muito pra trás.

Em 1968/69 corriam o Bino, as carreteras, Alfas, Fitti-Porsche e outras"coisas mais". Na ocasião o Alexandre Guimarães que já tinha construído o primeiro "formula V" o Aranae (apesar de todos acharem que o primeiro foi o dosFittipaldi). Construiu em seguida o "Formula Brasil" que era uma evolução do Formula V. Chassis tubular, mangas de eixo traseiras em magnésio, suspensão dianteira VW e motores VW praticamente sem limites de preparação e devodizer que na época eram bem rápidos.

Nesta ocasião associei-me ao Alexandre na oficina onde construía os Formula Brasil e nasceu a idéia de construirmos um protótipo destinado em umsegundo momento "Divisão 4". Quando começamos a categoria não existia ainda.

O chassis do carro era o do Formula Brasil com o "Kocpit" alargado para
biposto. Portanto , tubular com a suspensao dianteira VW e trazeira com "mangas de magnesio". Quanto ao motor compramos um de Porsche super 90 , 1600cc (não me lembro bem se foi do Anisio Campos ou do Wilsinho Fittipaldi). Mas a Idéia era colocar o motor Porsche pois o Alexandre tinha boa experiência nestes motores.

Com o chassis pronto fizemos a carroceria em fiberglass a semelhança deum Abarth da época.Como pode perceber não houve um pai do Sabre mas sim dois pais. Porém o nome quem sugeriu foi o Giba que na época estava começando na pequena oficina de Santo Amaro, e também preparava o VW de um principiante, um "tal" Ingo Hoffmann.

O Sabre deveria ter estreado em '69 mas, na ocasião acabou o $$$$. Uma pena porque com os carros em pista na época certamente era o maisavançado.

Para nos capitalizarmos fomos construir o primeiro Avallone, (Divisão4) com o próprio Antonio Carlos Avallone (Éramos amigos). Esta também é outra historia que poucos conhecem, mas quem fez os gabaritos e todo o resto partindo do Formula 5000 Lola fomos nós mesmos, eu e o Alexandre.

Naturalmente eu continuava com a minhas corridinhas de Gordini, Fusca Divisão 3, etc. Em 1971 conseguimos terminar o carro com a colaboração do amigo Jacinto Tonhato; porém com motor dois litros VW, feito pelo Giba já na oficina nova, ao lado da Kadron (não sei se existe ainda) sempre em Santo Amaro, na recém construída Marginal de São Paulo.

O Sabre foi pintado pelo Sid Mosca e inspirado num Porsche que corria a Can Am. Não preciso dizer que o carro era maravilhoso (pai coruja).

Nos primeiro treinos percebemos que o Sabre era bem rápido apesar de já ter em pista os Divisão 4 com caixa de câmbio Hewland de cinco marchas (o nosso era de VW com a "caixa 3" feita pela Puma) suspensões independentes, etc.

Infelizmente o atraso na construção nos colocou em desvantagem tecnológica. A primeira prova foi a 3 Horas de Interlagos que antecedia os 500km na ocasião em que vieram : a Ferrari 512 do Herbert Muller, Reinold Joest com o Porsche 908 /3, o Luiz Pereira Bueno com o 908 da Hollywood, Lolas, Berta, Chevron e outros. Os 500km porém era somente no anel externo. Fazendo dupla com o Tonhato ganhamos as 3 horas (eu porém não guiei porque ele já estava em primeiro e não achamos oportuno fazer uma parada desnecessária, visto que o regulamento permitia).

Creio tenha sido o único protótipo nacional a ganhar uma corrida internacional na estréia.

No dia seguinte parti para a classificação dos 500 km. Meu melhor tempo foi de 1m4s pelo anel externo. Lembro que não era ruim pois estava na frente das Alfas da Jolly, dos Lotus dos portugueses, e diversos outros carros mais pretigiosos que o simples Sabre Tupiniquim. Achamos portanto de comum acordo (eu e o Tonhato ) em não largar devido ao brilhante resultado no dia anterior e a evidente colocação na prova. (um detalhe: A Ferrari "virou" '52 no anel externo. Isto mesmo, cinquenta e dois segundos) Esta foi a única corrida que fez o Tonhato com o Sabre pois, os negócios privados o afastaram das corridas por um tempo.
Nos encontramos pela última vez na "Mil Milhas de 1973" onde corremos com VW Divisão 3 (11° na geral).
Continuei com o campeonato de Divisão 4 pelo Brasil afora até 1975/6 quando sempre com o Alexandre partimos para a aventura Kaimann SuperV (Mas esta é outra historia)

Em 1976 o Sabre estava nas oficinas da Magnum-Kaimann jà ultrapassado e com o projeto de reequipá-lo com um chassis Kaimann, etc. etc. Tenho ouvido, ou melhor lido, a respeito de "Kinko-Sabre" o que não corresponde a nada verdadeiro, inclusive desconheço completamente a Kinko. Como você sabe em 1976 foram simplesmente proibidas as corridas de\ automoveis pelos "gênios" militares do passado e foi o que condenou categoria Super V ,apesar de termos "segurado" por alguns anos.

Logo em seguida, 1980 me mudei para a Itália, mas o Sabre não foi preservado, não tenho notícias de seu paradeiro. Certamente jogaram no lixo como tudo no Brasil.

Tenho procurado um Kaimann para trazer para a Europa mas por incrível que possa parecer, não sobrou nenhum !!! Foram todos sucateados. Que tristeza.

Um abraço, Massimo Pedrazzi.

Comentários

Anônimo disse…
Mauricio
Sou muito grato pela homenagem.
Digo homenagem porque, ser lembrado, apòs estes anos todos me envaidece e até certo ponto me comove, visto nao ter sido piloto ou construtor tao importante no calendario brasileiro.
Apòs tantos anos ficaram as lembranças que, posso garantir, sao tantas e se tiver oportunidade um dia as contarei. Mesmo porque, pode parecer incrivel, mas desde que vim para Europa continuo partecipando à eventos em pista.
Hoje estou no campeonato historico europeu com o apoio oficial da Porsche Italia que me prestigia e proporciona a possibilidade de continuar a paixao que certamente transparece em cada minha palavra.
Novamente muito obrigado a todos e sucesso a voces que sao jovens e militam em um pais onde a ingratidao està sempre na "ordem do dia"
Massimo Pedrazzi
Anônimo disse…
O Sabre foi um Protótipo bem interessante. Massimo quais eram/foram as cores do Bicho?
Anônimo disse…
As cores do Sabre eram: branco com faixas azuis. Quem pintou foi o Cid Mosca e quando apareceu na oficina para montar a mecanica fez o maior alvoroço tanto que o Giba e o Josil diziam que era obra deles.
Parabens "italiano" até que enfim algum se mancou que voce e o gordo (Alexandre) foram uns caras bons de fato. Lembranças do Leonel
Leonel de Freitas
Anônimo disse…
P/ Caique

Branco e azul, como diz o Leonel.
Graaaande Leonel, meu mecanico das "Mil Milhas" dos anos '60.
Que Deus te abençoe e tudo de bom,
quanto nos divertimos nao???
Bons tempos!!!!
Super abraço
Max Pedrazzi
Anônimo disse…
Foi aqui no blog do Mauricio que tive a oportunidade de conhecer mais de perto o trabalho do Massimo e de Alexandre Guimarães à frente da Magnum Kaimann e na criação deste protótipo, do qual muito pouco sabia, além daquele vitória nas Três Horas de Velocidade de 1972.Também através da gentileza do Mauricio, iniciei uma prolífica correspondência com o Massimo, que me será muito útil para uma pesquisa que ora desenvolvo sobre protótipos nacionais construidos nas décadas de 50 e 70 (Sabre incluso, naturalmente!!).
Mauricio Morais disse…
Mestre Joa, fico feliz por este humilde espaço ter proporcionado seu encontro com o Pedrazzi.
Em breve estarei fazendo o Pato Feio do Achcar e depois o Patinho Feio do Alex Dias Ribeiro.
Quero "unir" estes dois patos pra ver qual é mais engraçado, com todo respeito aos mesmmos e seus genitores.
Anônimo disse…
Como pode um cara (jà de idade) brasileiro, com a estoria que tem e ainda por cima em atividade na Europa ninguem aqui no Brasil falar dele. Ainda por cima com os carros que tem. Inveja? falta de interesse? ou sacanagem mesmo!
Flavio Gomes
Curitiba